Regulatório – Rede elétrica AT se torna um entrave ao avanço do hidrogênio verde
O avanço dos projetos de hidrogênio verde no Brasil começa a esbarrar em um gargalo que pode comprometer a consolidação do país como protagonista global nessa nova fronteira energética: a infraestrutura de transmissão. Empresas com empreendimentos previstos para o Nordeste, região estratégica pela abundância de recursos renováveis, relatam crescentes dificuldades para garantir a conexão de suas plantas à rede elétrica. O resultado é um cenário de insegurança que afeta diretamente a atratividade dos investimentos e o cronograma de execução dos projetos.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), o principal entrave hoje não está na ausência de capital ou de interesse do setor privado, mas na falta de clareza e celeridade na concessão do acesso à transmissão. A presidente da entidade, Fernanda Delgado, destacou que “os investidores estão prontos”, mas o sistema de escoamento de energia é hoje o elo mais frágil da cadeia. O risco é que projetos já anunciados, com alto potencial de geração de empregos e exportação, fiquem paralisados por limitações que poderiam ser resolvidas por meio de planejamento regulatório mais estratégico.
Outro ponto de crítica recai sobre o atual modelo de leilões de transmissão, que ainda não contempla de forma adequada as especificidades dos projetos de hidrogênio verde. Ao desconsiderar as demandas futuras desse segmento, os leilões acabam reforçando um descompasso entre o ritmo da inovação e a capacidade de expansão da rede. Empresas como Eletrobras e Qair, que têm interesse declarado em desenvolver plantas na região Nordeste, aguardam garantias de conexão antes de avançar com os investimentos.
Com a crescente pressão internacional por soluções de descarbonização e com a União Europeia já estabelecendo critérios rigorosos para a importação de hidrogênio verde, o Brasil pode perder protagonismo caso não resolva com agilidade os obstáculos internos. A janela de oportunidade está aberta, mas a falta de infraestrutura adequada e a ausência de previsibilidade no acesso à rede podem comprometer a ambição brasileira de liderar o mercado global de hidrogênio limpo.